O campo já foi considerado um lugar onde as pessoas viviam com muita saúde, e as práticas populares e tradicionais de cura (rezas, chás, banhos de ervas, partos normais com parteiras) eram muito valorizadas. Hoje, o cenário mudou. Pesquisas confirmam que o campo é um lugar onde se convive com diversos fatores de riscos, agravos e adoecimentos decorrentes do modelo de desenvolvimento e das precárias condições de vida e trabalho (moradia, água, saneamento, educação, transporte, etc).

Isso explica porque o direito à saúde está na agenda política do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) desde sua origem, sendo as mulheres e os idosos do campo os protagonistas dessa luta. Por esta razão, o MSTTR participa ativamente da criação e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). Diante da ausência do Estado e antes do SUS, os trabalhadores(as) rurais se valiam da assistência médica e odontológica prestada pela Santa Casa de Misericórdia e pelos próprios STTRs, que foram obrigados a prestar esse tipo de serviço em cumprimento ao Decreto Lei 1166/1971, que estabeleceu a Contribuição Sindical na área rural.

Nosso desafio atual é fortalecer a luta política para garantir a efetivação desse direito. Por isso, o acesso aos serviços de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) não é o fim, mas sim uma estratégia importante para o MSTTR. A nossa principal bandeira de luta é a implementação da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta, pactuada entre o Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS) E Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), fruto das mobilizações e conquistas do MSTTR.

Nesse sentido, a Secretaria de Políticas Sociais da CONTAG tem feito processos de formação de conselheiros(as) de saúde, tem ocupado os espaços de controle social e de gestão participativa (conselhos, conferências, comitês, fóruns), tem fortalecido alianças políticas com outros movimentos e com a sociedade civil em defesa do SUS e do controle social.

Uma das nossas estratégias é assegurar, no âmbito dos estados e municípios, a constituição de grupos para trabalhar as políticas específicas para as populações do campo e da floresta. Nesse sentido, também é importante exigir do poder público a criação de outros comitês para tratar da saúde das populações negras, quilombolas e LGBT, que estão presentes no campo.

Outras bandeiras de luta e reivindicações nessa área: uma política de interiorização e valorização dos profissionais de saúde do SUS; ampliação da atenção básica com fortalecimento da Estratégia de Saúde da Família, Saúde Bucal e dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CERESTs); garantia e ampliação da lista de medicamentos ofertados nas farmácias do SUS; vigilância e saúde com maior controle do uso dos agrotóxicos na produção de alimentos e combate aos impactos na saúde humana; a saúde específica das mulheres e homens do campo, observadas o recorte de gênero, geração, orientação sexual, raça e etnia.