24/08/2018 | POLÍTICA AGRÁRIA
“Barbacena foi construída em cima de nossa história”, diz presidente de Associação de Índios Puri

Falar da história do Brasil também é falar da história dos povos originários e indígenas. Muitas etnias foram sendo exterminadas ao longo dos séculos ou foram forçadas a “perderem” suas culturas para serem dominadas pelas culturas europeias, dos colonizadores, que também podemos chamar de “etnocídio”.

Quem nunca ouviu falar que “minha avó foi pega a laço, meu bisavô era indígena, essa receita de chá é de família”?. E mesmo que não tenha uma história assim na família, muitas culturas e costumes passados de pai/mãe para os(as) filhos(as) têm forte influência dos povos indígenas, que viviam basicamente da caça, pesca e agricultura e tinham contato total com a natureza. Os rios, árvores, animais, ervas e plantas eram fundamentais para a vida dos indígenas.

E foi assim, com as histórias contadas na família, e também com estudos de historiadores e antropólogos que parte da população do Distrito de Padre Brito, em Barbacena/MG, descobriu-se indígena, da etnia Puris. E essa descoberta é recente. Há dois anos foi criada a Associação Regional Remanescente de Índios Puri de Padre Brito.

No dicionário, Puris são indígenas coroados do Espírito Santo e Minas Gerais. Os estudos mostram que essa etnia é originária do litoral do Espírito Santo e Rio de Janeiro e de acordo com o avanço da colonização, com a exploração dos Bandeirantes, os Puris foram sendo exterminados ou foram migrando para o interior, seguindo o curso da Bacia do Rio Paraíba do Sul, principalmente dos afluentes dos Rios Pomba e Muriaé. E há mais de 400 anos chegaram a Barbacena/MG.

Foto: César Ramos

Legenda: Na foto, da esquerda para a direita: Presidente do STTR de Barbacena, Sandra e Sária da Associação, e o presidente da CONTAG, Aristides Santos.

“Barbacena foi construída em cima de nossa história”, disse Sária Trindade Souza, presidente da Associação. Segundo Sária, o povo Puri de Padre Brito já foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do município e já foram realizadas duas edições do Festival da Cultura Indígena Puri, inclusive já constando na agenda oficial de eventos do município. No entanto, apesar do reconhecimento dos Puris pelo poder público local, a Associação luta pela garantia de direitos básicos, como educação, saúde e terra para produzir alimentos e ervas medicinais.

Sandra Aparecida da Silva, membro da Associação, disse que a escola do município fechou, apesar de oferecer boa estrutura, e que as crianças e adolescentes precisam agora estudar a 11 km de distância, num quilombo, em uma escola sem estrutura, em salas improvisadas, beirando uma rodovia, e são transportadas em ônibus sem monitores.

Outro problema enfrentado é a dificuldade de se autodeclararem indígenas no CadÚnico. De acordo com Sária, estão exigindo uma declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai) atestando que são indígenas.

Em reunião com o presidente da Funai, Wallace Moreira Bastos, na tarde do dia 22 de agosto, em Brasília, foi reafirmado que não há necessidade de a Funai emitir uma declaração reconhecendo que são indígenas. “A própria pessoa se autodeclara indígena”, disse Bastos.

O secretário de Política Agrária da CONTAG, Elias Borges, e sua assessoria, bem como o presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Barbacena, Márcio José da Silva, e a assessora jurídica da FETAEMG, Sônia Mara Prata, participaram da audiência com o presidente da Funai juntamente com Sária e Sandra da Associação Regional Remanescente de Índios Puri de Padre Brito. Durante a reunião, todos(as) foram informados que o processo de demarcação da terra indígena em Padre Brito já foi iniciado e que o órgão vai contribuir no diálogo com o poder público local para resolver a questão da escola, do CadÚnico e de outras políticas essenciais para a comunidade.

“Ao conhecer a história dessa comunidade e dos remanescentes dos índios Puri, vimos um processo muito bonito de descoberta e de assumir a identidade indígena. E para a CONTAG é um desafio representar esse povo, pois não são muitos os casos como esse. Mas, vimos muitas semelhanças com a agricultura familiar ‘tradicional’, já que em sua maioria atuam no trabalho agrícola, como meeiros, parceiros ou diaristas. Vamos continuar acompanhando o caso dessa comunidade e esperamos obter êxito das demandas apresentadas junto à Funai”, destaca Elias.

FONTE: Assessoria de Comunicação da CONTAG - Verônica Tozzi