Inquérito culpa nove funcionários e dono da NF Segurança por
confronto em fazenda da Syngenta no Paraná
Miguel Portela, CASCAVEL
Nove seguranças privados e o proprietário da NF Segurança,
Nerci Freitas, foram responsabilizados no inquérito policial sobre o confronto
na fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste
(PR), a 530
quilômetros de Curitiba. Ocorrido em 21 de outubro, o
confronto com integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) que pela segunda vez
invadiam a fazenda resultou nas mortes do líder sem-terra Valmir Mota de
Oliveira, de 42 anos, e do segurança Fábio Ferreira, de 25 anos.
O delegado que presidiu o inquérito, Renato Bastos
Figueiroa, responsabilizou os nove seguranças e o dono da NF por homicídio e
formação de quadrilha.Os quatro volumes do inquérito foram entregues anteontem
à 2ª Promotoria Criminal da Comarca de Cascavel Figueiroa não culpou ninguém
pela morte do segurança e não apontou nenhum sem-terra como responsável pelo
confronto. Apenas o líder do MST Celso Ribeiro Barbosa foi responsabilizado no
inquérito por esbulho possessório (invasão com violência ou ameaça a bens
alheios). O crime prevê detenção de um a seis meses e multa.
O advogado dos seguranças e da empresa, Hélio Ideriha
Júnior, não concordou com o resultado das investigações. "Trata-se de um
inquérito vergonhoso e parcial. Desde o início denunciamos que a polícia só
ouvia um lado", reclamou. Durante o trabalho policial os acusados se
negaram a prestar esclarecimentos, preferindo se manifestar apenas perante a
Justiça.
A Secretaria Estadual de Segurança não quis comentar o caso,
informando apenas que as investigações prosseguem, mesmo com o encerramento do
trabalho policial. A promotora Fernanda Garcez deve iniciar a análise do
processo a partir de amanhã. "A promotora pode oferecer denúncia, arquivar
o processo ou solicitar mais informações. Esta última hipótese é mais
provável", contou o advogado. Segundo o Ministério Público, a promotora
tem cinco dias para analisar o inquérito.
O MST e a Via Campesina marcaram para hoje um ato público na
fazenda da Syngenta, para lembrar os 30 dias da morte do líder Valmir Mota de
Oliveira e cobrar a prisão dos culpados pelo confronto. O enfrentamento ocorreu
quando os seguranças tentavam retomar a fazenda, que fora invadida de manhã por
200 integrantes do MST e da Via Campesina.
Oliveira foi morto com um tiro no abdômen e outro na perna.
O segurança Fábio Ferreira, com um tiro na cabeça. Outras oito pessoas ficaram
feridas, sendo cinco sem-terra.
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